segunda-feira, 13 de agosto de 2018

13 de agosto de 2018

Talvez você não entenda. Olhando de fora a vida pode parecer fácil. Mas por dentro me corroo de insatisfação. Tenho bons amigos, boa família, um namorado incrível. No entanto, a parte profissional parece sempre deixar a desejar. Justo a parte que tenho mais orgulho de mim mesma. Sei que trabalho bem, sou esforçada, dedicada, rápida e eficiente. Gosto de estudar, então para a maioria dos lugares foi bem qualificada. E, mesmo assim, não consigo ser feliz no trabalho. Sinto que nunca sou valorizada. E, agora, acima de tudo, sinto que as cobranças são muito maiores do que posso suprir. Então, estou constantemente sendo chamada atenção e sendo tratada com uma grosseria desnecessária por não ter resultados que não dependem de mim.

Ricardo riu quando eu disse que, às vezes, vindo para o trabalho eu me imagino batendo o carro e ficando um tempo em coma para ver se as coisas se resolvem sem eu ter que enfrentar tanta dificuldade ou talvez assim eu seja melhor tratada, quem sabe. Outras vezes eu apenas choro no caminho só de pensar em ir ao trabalho.

E isso não era melhor antes, sabe? Quando penso, vejo que fui feliz em um curto período na Wizard, antes de começar a falir. Quando tinha uma boa coordenadora e podia fazer de tudo para facilitar o trabalho dela.  Isso foi em 2008... Ou seja, a sensação que tenho agora é que nada melhora. Nesses 10 anos que se passaram, evoluí academicamente, pessoalmente, mas continuo infeliz, sonhando com coisas que não posso ter.


sexta-feira, 23 de março de 2018

 Eu lembro da escola. Lembro das meninas populares e seus espelhos por toda parte, penteando o cabelo perfeito; retocando o batom. Lembro dos banheiros lotados das mesmas garotas se observando. Hoje, observo as pessoas tirando selfies, fazendo pose. E decidi escrever sobre isso porque nunca consegui fazer o mesmo, e nem consigo agora. Tenho dificuldade inclusive de explicar como me sinto.
Sempre achei que era um privilégio das pessoas bonitas e permaneço com esse trauma. Um receio de que as pessoas irão me julgar, pensando que, uma vez que sou feia, não devo demonstrar a vaidade de me olhar na frente do espelho.
A estranheza que reconheço quando me comparo com as outras pessoa é uma constante em minha vida. Sempre tive dificuldades de me sentir incluída, de me sentir igual.
Talvez fosse o cabelo rebelde, cheio e seco. No início, a magreza absurda. Agora, a gordura saliente. As roupas, sempre fora de moda. A verdade é que eu nunca cuidei muito da minha aparência. Mas isso se deve muito mais ao fato de me sentir um caso perdido e ao receio das pessoas acharem errado eu desperdiçar esse cuidado comigo. É meio que, se você não faz nada as pessoas vão entender que você é horrível e pronto e, se você faz algo como se arrumar, as pessoas vão achar que você é horrível mas não se enxerga.
Nossa! Acho que nunca tive tanta dificuldade para me expressar! Normalmente meus textos saem de um fôlego só.
O motivo provavelmente é o resultado de tantos anos me reprimindo com medo de me expor, e do complexo de inferioridade complexo demais.
Talvez ninguém tenha noção do quanto é dolorido para mim colocar maquiagem, me arrumar, tirar fotos, falar em público, falar com pessoas desconhecidas, ir para lugares novos em que eu não sei como devo me vestir... E talvez ninguém tenha noção de que eu não levo tão na brincadeira sim as brincadeiras que elas fazem.
O que eu queria de verdade era ouvir "você não é tão gorda como você pensa, você é linda" (escuto, às vezes, e nem consigo acreditar). Queria também ir num salão de beleza em que o cabeleireiro não me olhasse com reprovação, e dissesse "você não cuida do cabelo? Mas seu cabelo é muito bonito naturalmente sim".
Bem, se é difícil demais para mim escrever sobre isso, imagine superar.
Mas eu tive uma nova ideia. Talvez, se eu brincar bastante sobre minha aparência, responder as gracinhas com um excesso de falsa confiança, "tá maluco? eu sou lindíssima, meu bem", talvez eu possa convencer a mim mesma de que eu não sou tão ruim quanto enxergo.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Ópera

Ontem de noite enquanto corria me vi transportada pelo som das ondas na lagoa. Impulsionadas pelo vento, chocavam-se contra a estrutura de concreto que formava sua orla. Ao fechar os olhos, percebi minha audição ampliada e me vi perdida no meio do mar, respirando o ar fresco, até gelado, da noite implacável dos pescadores. 
Lembrei-me de Tengo, Aomame e lembrei da liberdade de poder refletir sobre as sensações e analisar meu cenário em volta. É como se retirasse uma pequena película, fina e turva, que bloqueasse a visão, porém não totalmente. É como a diferença tão batida entre enxergar e ver.
 Acordei antes do despertador, pela primeira vez depois de muito tempo. E o corpo não estava pesado e sonolento. A temperatura estava boa e o sol radiante. Como era cedo, me permiti permanecer deitada, desfrutar do conforto e sonhar acordada.
Ao me aprontar, me senti disposta e alegre para enfrentar o dia. Momento tão raro ultimamente. No carro, escolhi música clássica quando me lembrei do passado. Costumava sintonizar a estação de rádio que tocava óperas variadas, deitar no sofá e fechar os olhinhos. Acredito que eu tinha mais ou menos quatorze anos naquela época. Era tão bom poder parar o mundo por um tempo, não ter nenhum problema martelando a mente. Sentir os acordes deslizarem pelo corpo todo. Respirar a harmonia perfeita entre os instrumentos e perceber cada detalhe da composição. Tudo bem que hoje estava dirigindo, e a atenção jamais seria exclusiva. No entanto, a paz nostálgica que me atingiu foi intensa. 
Ainda tenho facilidade para escrever e me expressar, mas tão pouco sobre o que falar. A vida não está como eu gostaria, então me perco em vidas de tinta, espalhadas em páginas que não me pertencem.
Contudo, sigo. Me nutrindo da força que aqueles que me amam me doam sem pensar duas vezes.
Talvez, se eu fosse mais só, estaria tudo perdido.